o elo entre o amor de Deus e o amor ao próximo
Introdução
Voltamos nossa atenção, a partir da lição anterior, para compreender os sinais, as evidências de que Deus nos fez nascer de novo. É o que continuaremos a fazer neste e nos próximos estudos, sempre com base em 1João.
Vimos que o novo nascimento produz imediatamente um novo relacionamento com o Deus Trino. Ao nascermos de novo, passamos a crer em Jesus, a vê-lo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem e como o Messias prometido nas Escrituras do Antigo Testamento, como o agente de Deus para a nossa salvação. Também, quando nascemos de novo, começamos a amar o Pai e a sermos habitação ininterrupta do Santo Espírito. Assim, fé em Jesus, amor ao Pai e a morada permanente do Espírito são os primeiros e mais fundamentais sinais de que nascemos de novo.
Esse novo relacionamento com Deus, resultante do novo nascimento, produz efeitos à vida prática, dentre eles, o amor ao próximo. Isto é, aqueles que nasceram de novo amam as pessoas, não as odeiam (1Jo 2.9; 3.14; 4.7-8; 4.20). Nesta lição, entenderemos como o amor ao próximo surge no novo nascimento, ou qual a relação do amor ao próximo com o novo nascimento.
O amor é parte de quem Deus é
O amor é parte da natureza de Deus, é parte de quem Deus é. Em 1João 4.7, o apóstolo diz: “o amor procede de Deus”. Com isso, João nega que Deus em algum momento tenha adquirido amor, ou que tenha sido provocado a amar. De maneira nenhuma. Antes, João assevera que o amor é parte da vida de Deus, que Deus é a fonte de onde emana o amor. Em Deus, é natural amar como para nós é natural respirar. Em 1João 4.8, João resume o ponto dizendo que “Deus é amor”, que amar é da essência da vida divina.
Entretanto, ao afirmar João que “Deus é amor”, não pretende o apóstolo dar uma definição completa de Deus, o que seria uma impossibilidade, tanto mais porque o Deus que é amor também é “fogo consumidor” (Hb 12.29; Dt 4.24). Nem mesmo a cruz seria explicada se o Deus que é amor fosse apenas amor, despido de santidade e justiça. Mas, certamente, tal assertiva sobre a natureza divina quer significar pelo menos isso: que Deus é cheio de amor, por Sua própria natureza e no mais íntimo do Seu ser.
O envio de Jesus: a prova mais evidente do amor de Deus
O amor de Deus se revela em grau máximo no fato de que Ele enviou o Seu Filho. Essa verdade está colocada duas vezes nos versículos 9 e 10 de 1João 4. Semelhantemente, o objetivo desse envio está registrado de duas maneiras: “para vivermos por meio dele” (v. 9) e “como propiciação pelos nossos pecados” (v. 10).
Quando João diz que Jesus foi enviado para “vivermos por meio dele”, ele nos dá a mais confortadora notícia de que nós recebemos a vida do novo nascimento porque Jesus foi enviado. Como já sabemos que Jesus foi enviado porque Deus é amor e que o envio de Jesus é a manifestação por excelência do amor de Deus, conclui-se que a vida do novo nascimento que recebemos em Jesus exsurge na natureza amorosa de Deus.
Além disso, Jesus também foi enviado “como propiciação pelos nossos pecados”. Jesus é a propiciação pelos nossos pecados (1Jo 2.2). Ou seja, Jesus afastou a ira de Deus que era contra nós recebendo em Si a punição que nossos pecados merecem. É dizer, a ira de Deus, armada contra nós, voltou-se contra Jesus Cristo. Assim, quando Jesus deu a vida por nós, aquele ato era Deus desviando Sua santa ira de sobre nós e aplicando-a em Si mesmo, na pessoa do Seu Filho. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós…” (1Jo 3.16). Isso significa que a maior manifestação do amor de Deus foi a Sua ação de, por meio de Jesus, desviar de nós a Sua ira.
O que Deus fez por meio de Jesus, ressalte-se, é a manifestação do Seu amor. João deixa claro no versículo 10 que a manifestação do amor de Deus procede de quem Deus é: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”. O amor de Deus não é, pois, uma resposta do amor que supostamente tivemos por Deus, mas a fonte de toda a devoção genuína que a nova vida em Cristo nos fez manifestar.
O amor em Deus e o nosso amor
Como no novo nascimento recebemos vida em Jesus (a vida de Jesus que compartilhamos em união com Ele), o amor que é parte da vida divina se torna parte de quem somos. Ou seja, segundo João, é o novo nascimento que liga o amor de Deus com o amor daquele que nasceu de Deus.
Leiamos, a propósito, 1João 4.7,8: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor”. Esses versículos informam que o amor é parte da natureza de Deus e a vida divina que compartilhamos ao nascer de novo torna o amor parte da nossa natureza regenerada.
É por isso que João diz que “se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” (1Jo 4.11, com grifo). Esse “devemos” significa não apenas que é imperioso imitar o amor de Deus amando-nos uns aos outros, mas que, porque o amor passou a ser parte de quem nós somos, devemos amar do modo como respiramos ou abrimos os olhos ao acordar, porque o amor passou a ser algo natural em nós do modo como é natural em Deus, guardadas, evidentemente, as devidas (e infinitas) proporções. Isso quer significar que João se recusa a aceitar que haja nascidos de novo que não amam em uma medida genuína, capaz de refletir o amor daquele que os regenerou! Se somos pessoas regeneradas, somos pessoas que amam: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte” (1Jo 3.14).
Conclusão
É verdade que nos amamos uns aos outros porque Deus nos amou. Mas frisemos bem este ponto: o nosso amor é muito mais do que a mera imitação do amor de Deus. Nem mesmo a gratidão pelo amor de Deus explica o amor que temos pelos nossos irmãos.
A realidade do nosso amor é bem mais profunda. Ela deita raízes no novo nascimento, momento em que Deus nos deu a compartilhar Sua natureza em cuja essência reside o amor, tendo o amor passado a ser parte da nossa nova natureza. Quando nos fez nascer de novo, Deus nos deu um coração semelhante ao Seu, amoroso, depois de haver removido o nosso coração egoísta, duro como uma pedra.