Os Efeitos do Novo Nascimento

Lição 7/13

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Modo noturno

Introdução

Estamos em nossa sétima lição tratando da grandiosa doutrina do novo nascimento. Para melhor aproveitamento do que falaremos a partir deste estudo, faremos uma retrospectiva do que dissemos até aqui. 

Primeiro, colocamos o que o novo nascimento não é: a obtenção de um novo sistema religioso; a mera percepção do caráter divino do ministério de operadores de milagres; aperfeiçoamento ou reforma do velho homem, nem mesmo o abandono de hábitos nocivos. Expondo as coisas positivamente, dissemos que o novo nascimento é uma operação divina soberana, sobrenatural, realizada por meio do Espírito e da Escritura, que concede vida em Jesus (a vida de Jesus) a pessoas espiritualmente mortas.

Depois de tratarmos sobre o “o quê” novo nascimento, dedicamo-nos ao “porquê” da regeneração espiritual, afirmando que estávamos mortos em delitos e pecados ou, dizendo de outro modo, que possuíamos um coração de pedra. Por fim, voltamo-nos para entender o “como” do novo nascimento. Quisemos saber, nesse sentindo, como viemos a nascer de novo, concluindo que Deus opera a nossa regeneração espiritual por meio do resgate efetuado na cruz, pela ressurreição de Jesus Cristo e pelo chamado eficaz. Já estudamos, portanto, sobre o “o quê”, sobre o “porquê” e sobre o “como” do novo nascimento. 

Nesta lição, exploraremos o tema dos “efeitos” do novo nascimento, com o propósito de descobrir o que a regeneração espiritual operada em nós causa ou, em outras palavras, o que acontece conosco quando nascemos de novo.

A fé é despertada

Quando Deus nos faz nascer de novo, a fé salvadora é despertada em nós. Dizendo de outro modo, até que nasçamos de novo não cremos em Jesus Cristo salvadoramente e tudo o que temos é incredulidade. 

Esclareça-se, a propósito, que incredulidade não é necessariamente ateísmo. A incredulidade a que me refiro pode conviver com a religião, pode até confessar uma religião, um credo, uma tradição religiosa qualquer, inclusive ortodoxa. Mas, ainda assim, é incredulidade, porque se recusa a descansar somente em Jesus Cristo para a vida eterna. Assim, no máximo, o que podemos ter sem o novo nascimento é uma confissão religiosa que não difere, na prática, de incredulidade.

Quando, todavia, nascemos de novo, a fé salvadora é despertada e somos unidos a Cristo. Eis o que nos diz João 1.11-13: “Veio para o que seu, e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. A sequência lógica (não cronológica) sugerida pelo texto é esta: primeiro ocorre o novo nascimento pela vontade de Deus; segundo, os nascidos de Deus creem em Jesus Cristo; terceiro, os que creem são feitos filhos de Deus. 

Veja-se ainda, nesse mesmo sentido, 1João 5.1: “Todo aquele que Crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus…”. O texto não diz que o que crê será nascido de Deus, mas que é nascido de Deus. Note-se também que a passagem não deixa margem para a possibilidade de haver pessoas que creem que Jesus é o Cristo (algo que ultrapassa o mero consentimento intelectual) sem terem nascido de Deus. A fé que nos une a Cristo é a primeira expressão da nova vida que vem por meio do novo nascimento.

Somos justificados

Quando o novo nascimento desperta a fé e nos une a Cristo, somos justificados, considerados justos (Rm 3.21-24, 5.1; Gl 2.16; Fp 3.8,9).

“Justificar” é o ato divino de, em Sua livre graça, proferir uma sentença que considera o pecador justo diante dEle e, portanto, inculpável e com direito à vida eterna, simplesmente por meio da fé, pela atribuição da justiça de Cristo à conta do pecador, na base da redenção vicária ou substitutiva já realizada na cruz. 

Isso quer significar que quando cremos em Jesus para a nossa salvação, descansando inteiramente na suficiência da Sua obra redentora, Deus nos imputou, por meio da fé somente, a justiça de Cristo, com base na qual nos considerou justos em Seu tribunal. 

Recebemos a adoção de filhos

Enquanto a justificação trata do aspecto legal concernente à condenação do homem perante o Justo Juiz, a adoção reverte radicalmente a alienação da criatura em relação ao Criador. 

Explique-se. Deus, por meio da fé que nos uniu a Cristo (a fé que é despertada no novo nascimento), justificou-nos (ou seja, removeu todos os obstáculos legais que impediam a nossa plena aceitação por Ele). Se Deus tivesse parado por aí, essa já seria uma misericórdia incomensurável e absolutamente imerecida, sobejamente suficiente para nos tornar eternamente devedores dos mais sinceros, intensos e fervorosos preitos de louvor e gratidão. 

Mas Deus não apenas nos absolveu da acusação que pesava contra nós. Ele, por assim dizer, tirou-nos do banco dos réus e nos levou do cárcere e do fórum para o Seu lar, adotando-nos como filhos, tornando-nos Seus filhos legais, com todos os direitos decorrentes da filiação. 

A adoção, pois, é essa manifestação incompreensivelmente extravagante do amor de Deus (1Jo 3.1), através da qual Ele, com fundamento na redenção que há em Cristo, por meio do Espírito Santo (Rm 8.15,16; Gl 4.6) e segundo o Seu livre conselho (Ef 1.5), põe os homens justificados (Jo 1.12,13) em uma relação filial consigo, recebendo-os em Sua família, tornando-os Seus herdeiros e co-herdeiros com Cristo (Gl 4.7; Rm 8.17), bem como objeto do Seu amor disciplinar (Hb 12.4-8).

Estamos no caminho da santificação

O novo nascimento, também, ao passo em que nos desperta a fé e nos une a Cristo, concede-nos a presença santificadora do Espírito e nos coloca no caminho da santificação (1Jo 2.29; 3.1-3,9,10). 

“Santificação” é a obra de Deus (Hb 13.20,21; 1Pe 5.10), mais precisamente do Espírito Santo (Rm 8.13,14; Gl 5.22,23; 2Ts 2.13; 1Pe 1.2; Tt 3.5), por meio da qual Ele liberta a pessoa inteira do pecador justificado (1Ts 5.23; 1Co 6.15,20) – incluindo todas as suas faculdades (Fp 2.13; Jr 31.34; Hb 9.14) -, de maneira gradual, progressiva e sempre incompleta nesta existência (Fp 3.12-14; 1Jo 1.8), do poder influenciador do pecado. 

Essa libertação do poder do pecado dá-se através da gradual remoção da corrupção da natureza (Rm 6.6), aspecto chamado em teologia de “mortificação “, e do fortalecimento contínuo da disposição santa da alma regenerada (Rm 6.4), nuance da santificação denominada “vivificação”, pelas quais os regenerados são conduzidos à prática da justiça e das boas obras (Ef 2.10; 1Jo 2.29). 

O novo nascimento, portanto, é o despertar para o caminho estreito que nos conduz ao céu.

A glorificação está assegurada

Finalmente, aquela obra que teve início no novo nascimento se consumará na redenção final, com o pleno aperfeiçoamento da nossa salvação, na glorificação. 

“Glorificação” é a consumação do aperfeiçoamento dos crentes, o fim do processo de santificação iniciado na regeneração, ocasião em que os eleitos serão transformados na semelhança com Cristo e receberão um corpo adaptado ao estado eterno (1Jo 3.2; 1Co 15.52). 

Isto é, a obra de Deus iniciada no novo nascimento é necessariamente conduzida à glorificação (Rm 8.29,30; Fp 1.6; 1Pe 1.3-5), cujo ápice é a alegria da eterna comunhão com Deus: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

Conclusão

Já havíamos entendido que o que nos desperta para a nova vida, o que nos tira do túmulo espiritual, é o chamado eficaz. Deus falou criadoramente e a vida foi criada, passamos da morte para a vida, ressuscitamos espiritualmente, nascemos de Deus. 

Mas isso é apenas o começo. A nova vida recebida no novo nascimento nos despertou à fé salvadora, por meio da qual fomos justificados e adotados como filhos de Deus. Agora, considerados justos e aceitos por Deus, estamos trilhando o caminho da santificação, que culminará na glorificação, na consumação da nossa salvação. 

Dizendo de outro modo, sem o novo nascimento não haveria a fé salvadora que nos une a Cristo, só incredulidade; tampouco justificação, só condenação; não haveria adoção de filhos, só a alienação em que permaneceríamos sendo filhos do Diabo; não haveria também santificação, só contínua escravidão ao poder do pecado; não haveria tampouco a alegria eterna da comunhão com Deus, experimentada na consumação da nossa salvação, apenas a miséria eterna.

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