Mortos em Delitos e Pecados

Lição 3/13

Temas Gerais
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Modo noturno

Introdução

Nas lições anteriores, estudamos o que o novo nascimento não é e, em seguida, o que é o novo nascimento, afirmando tratar-se de uma operação divina, soberana, sobrenatural, realizada pelo Espírito e por meio das Escrituras, que concede vida espiritual, a vida que se obtém somente estando em união com Jesus.

Nesta lição, dedicar-nos-emos a conhecer a razão pela qual o novo nascimento é uma tão absoluta necessidade. Vale lembrar que em um texto muito curto João registrou três vezes a fundamentalidade do novo nascimento, tal como ensinada por Jesus: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”; “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”; “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.3,5,7).

É dizer, queremos saber o “porquê” do novo nascimento. Por que é tão essencial nascer de novo? Por que a solução para o problema não poderia ser um remédio menos radical, algo como uma decisão de mudar, uma autodisciplina, uma formação moral e cívica contundente ou uma educação formal refinada? Por que carecemos de operação tão radical, sobrenatural, espiritual, como aquela que Jesus chamou de nascer de novo?

Estávamos mortos (Ef 2.1,4,5,7)

A razão da necessidade fundamental do novo nascimento é esta: estávamos mortos. E mortos não melhoram, não convalescem. Pessoas mortas carecem de nada menos que vida, a vida que não possuem! Por isso o novo nascimento é dito em termos de uma ressurreição, uma passagem da morte para a vida, uma vivificação e uma nova criação (2Co 5.17; Gl 6.15; Ef 2.5,6,10; 1Jo 3.14). 

A morte pressuposta na necessidade do novo nascimento evidencia que a obra divina de conceder vida a quem está morto é uma obra de amor. Notemos que em Efésios 2.1-10, em duas ocasiões, Paulo descreve a todos como “estando mortos” (vs. 1,5) e que a dádiva da vida decorre da “riqueza da misericórdia” de Deus e do Seu “muito amor com que nos amou” (v. 4). A bondade de Deus para conosco – em Ele ter nos dado vida, estando nós mortos -, servirá inclusive para que as “abundantes riquezas da Sua graça” sejam manifestas eternidade afora (v.7).

Assim, que morte é essa? Como o Novo Testamento a descreve? Que morte é essa cujo remédio emanou da riqueza da misericórdia, do muito amor de Deus, das abundantes riquezas da Sua graça? Vejamos como essa morte é explicada pelo apóstolo na passagem referida.

É uma morte em delitos e pecados (Ef 2.1,3)

Notemos que, pela leitura de Efésios 2.1-10, a morte aqui referida é ausência de vida espiritual; não é meramente ausência de vida. Esses mortos têm desejos e vontades (v. 3: “desejos da nossa carne”; “a vontade da carne e dos pensamentos”). Não estávamos mortos no sentido de que não podíamos pecar. A morte espiritual diz respeito a nada podermos fazer de espiritualmente útil, aproveitável em relação a Deus e aprovado por Ele. “Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis” (Rm 3.12a). Do modo como um cadáver é inútil para todas as atividades da vida natural, um não regenerado é espiritualmente inútil, inservível para todas as atividades da vida espiritual e, como aquele, incapaz de sair do seu próprio túmulo. 

Essa morte é uma tríplice escravidão (Ef 2.2,3a)

Nos termos da passagem em comento, éramos escravos do mundo, de Satanás e do pecado. O termo “mundo” carrega o sentido de ideias e valores contra Deus (v. 2a): “andastes segundo o curso deste mundo”. Somente os nascidos de novo nadam contra a correnteza deste mundo. A fé dos nascidos de novo é a vitória que vence o mundo: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5.4).

Éramos ainda escravos de Satanás (v. 2b): “andastes… segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência”. A morte espiritual está relacionada com Satanás. Isso quer significar que as escolhas, projetos, desejos e valores das pessoas não regeneradas estão em harmonia com a vontade de Satanás. O novo nascimento tanto desperta-nos para a fé que vence o mundo como para a fé que nos liberta de Satanás (2Tm 2.24-26).

Éramos, por fim, escravos também da nossa própria natureza pecaminosa (v. 3a): “todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne e dos pensamentos”. Com efeito, o pecado estava de tal modo enraizado em nossa natureza e nós tanto o amávamos que não podíamos abandoná-lo, ou mortificá-lo, tampouco extirpá-lo. Essa escravidão ao pecado está também dita, em termos claros, em diversos outros lugares da Escritura: “outrora, escravos do pecado” (Rm 6.17); “sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14); “todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34).

No novo nascimento, entretanto, Deus concede vida espiritual, uma natureza totalmente nova que odeia o pecado e ama a justiça. Enquanto Deus não nos desperta da morte e não nos dá vida espiritual, somos incapazes de nos submeter à vontade de Deus e de querer agradá-lO. “Porque o pendor da carne dá para a morte… o pendor da carne é inimizade contra Deus… Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.6-8). A morte espiritual nos faz tão resistentes à vontade de Deus que não podemos nos submeter a Ele, tampouco agradá-lO. Somente o novo nascimento pode reverter essa condição, conforme Romanos 8.9: “Vós, porém, não estás na carne, mas no Espírito…”.

Essa morte significa sermos, por natureza, “filhos da ira” (Ef 2.3b)

Leiamos, a propósito, o v. 3b: “e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais”. Éramos, portanto, condenados. Tudo que merecíamos era a ira santa de Deus. Observe-se, todavia, que éramos merecedores da ira de Deus mais pelo que éramos por natureza do que pelo que fazíamos.

Noutro dizer, o problema não residia somente naquilo que fazíamos, mas, sobretudo, naquilo que éramos por natureza. De fato, é forçoso reconhecer que aquilo que éramos por natureza estava na base daquilo que fazíamos, e não o contrário. Ou seja, nós não éramos pessoas de boa natureza que, depois de termos feito algumas coisas ruins, tornamo-nos maus. Nós éramos iníquos por natureza e, já pelo que éramos, acendemos o fogo da ira de Deus contra nós. “Eu nasci na iniquidade e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5).

Conclusão

Tudo o que estudamos nesta lição sobre o que somos por natureza conduz-nos à convicção quanto à absoluta necessidade do novo nascimento. É essa operação poderosa do Espírito que concede vida aos mortos, liberta da escravidão ao mundo, a Satanás e à natureza pecaminosa e nos retira da condição natural que atraía a ira de Deus. 

Mas precisamos avançar para aprofundarmos nossa compreensão quanto à absoluta necessidade do novo nascimento. É o que faremos na próxima lição.

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