Escatologia

A Escatologia Inaugurada

Teologia Sistemática
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De acordo com o Novo Testamento, a última parte da presente era (aion houtos) começou com a primeira vinda de Cristo, momento em que já tiveram início os últimos dias ou a última hora (1Co 10.11; Hb 1.2; 9.26; 1Jo 2.18), que serão consumados com a segunda vinda de Cristo, quando a era vindoura (aion mellon) será instalada (Mt 19.28-29; Mc 10.30; Lc 18.30; 20.35; 1Co 15.23; Hb 2.5; etc.). Essa era vindoura começará com o dia do Senhor (hemera tou kuriou), isto é, naquele momento em que Cristo aperecerá, ressuscitará os mortos, executará juízo e renovará o mundo. Esses eventos ocorrerão, conforme o Novo Testamento, em um momento, “num abrir e fechar de olhos” (1Ts 4.15-17).

Antes de voltarmos o olhar para a consumação da presente era, importa afirmar, à luz do Novo Testamento, que já vivemos em uma “era escatógica”, em uma “escatologia inaugurada” com a primeira vinda de Jesus Cristo. É o que buscaremos compreender a partir dos estudos percucientes de Leandro Lima, colhidos nas aulas de pós-graduação em Escatologia e Apocalipse.

A Batalha pelo Nascimento do Rei

O que seria o “Armagedon”? Uma batalha no final dos tempos? A batalha final não é uma luta, é apenas o esmagamento, um verdadeiro massacre, dos inimigos de Jesus Cristo, a consumação escatológica de uma batalha sangrenta já travada na sua primeira vinda (Ap 19.14-15, 20-21). A primeira vinda de Jesus foi uma verdadeira batalha que inaugurou a escatologia, a era escatológica. A primeira vinda realizou uma batalha jurídica, forense. Observe-se que uma disputa jurídica envolve o juiz, o réu, o advogado e o acusador. O Diabo exercia esse papel de “o grande acusador”. 

Há apenas três aparições diretas de Satanás no Antigo Testamento, além de Gênesis 3: 1Cr 21.1; Jó 1,2; Zc 3.1. Nessas passagens, há sempre em comum a tentação (em Gênesis 3 e 1Crônicas) e a acusação (em Jó e Zacarias). Nas duas acusações mencionadas é Deus quem defende os acusados pelo Diabo. Satanás, no Antigo Testamento, portanto, é o acusador diante de Deus, com acesso direto a Deus e ele podia fazer isso porque era “legal” fazê-lo, legal no sentido de que agia com base na estrita legalidade. A figura que o Antigo Testamento pinta de Satanás não é a de um monstro, mas a de um legalista, de paletó e gravata, com um Vade Macum aberto.

Quando Jesus veio, foi a todo instante pressionado de alguma forma por demônios. Cada passo de Jesus tinha relação com a força das trevas, com o tipo de batalha que veio enfrentar e com a vitória que conquistou sobre elas. A primeira vinda de Jesus garante essa vitória e é por isso que Paulo diz que somos mais do que vencedores. Essa vitória conquistada na primeira vinda de Cristo garante a nossa vitória sobre as forças das trevas, hoje e no futuro. Somos vencedores porque Cristo venceu.

O grande ensino do Novo Testamento é que Deus enviou seu Filho ao mundo caído. A grande profecia do Antigo Testamento se cumpriu quando o Rei nasceu. Nesse cenário da natividade, há uma intensa movimentação de anjos (Lc 1.32-33). Essa é a primeira aparição de Gabriel após sua última aparição no capítulo 9 de Daniel (após quase 500 anos). A Daniel, Gabriel disse que 70 setes estavam determinados sobre o povo de Israel (setenta semanas de anos). Se fizermos uma conta de 69 semanas de anos, isso dará o número de 483 anos, que, a contar dos dias de Daniel, culminará em uma data no início do primeiro século da era cristã. O mesmo Gabriel que anunciou a promessa do nascimento do Messias (quase 500 anos passados) voltou a anunciar a Maria o cumprimento dessa promessa. 

Lucas 2.1-5 localiza os eventos sobrenaturais dentro da história, montando o cenário completo para o nascimento de Jesus no exato lugar profetizado. Deus realizou seu decreto eterno por meio de um decreto arbitrário e improvável de um imperador romano. Lucas 2.7-8 localiza o nascimento do Messias em cenário que não parece apontar para o nascimento de um grande rei, mas os anjos novamente entram novamente em cena (Lc 2.8-14). Foi desse modo paradoxal que Deus enviou seu Filho, o Rei Eterno. Essa multidão dos “exércitos celestiais” indica que havia chegado o Grande Rei para uma batalha. Essa aparição de anjos foi uma declaração de guerra. Mas após a aparição os anjos desapareceram, porque a batalha final seria travada por um único guerreiro. A batalha escatológica havia começado. Os anjos voltariam a aparecer apenas ocasionalmente, para assistir Jesus em algumas ocasiões (Mt 4.11) e testemunhar seus feitos. Todas as esperanças estavam depositadas naquele bebê da manjedoura. Ele teria que lutar sozinho contra todas as forças das trevas. 

Que a batalha escatológica teve início com o nascimento de Jesus, se pode ver também em Apocalipse 12.1-5. Na sequência, o capítulo narra uma batalha entre anjos que culmina na expulsão dos céus de Satanás e seus anjos. Essa passagem é construída a partir de Gênesis 3. A mulher grandiosa é o povo de Deus na antiga aliança, que regride genealogicamente até Eva. A mulher grávida é o anúncio divino de que o Messias está para nascer e, assim, concretizar todas as promessas de libertação e paz prometidas à mulher, isto é, à Igreja. 

Tudo isso está em total relação com o dragão, que é apresentado como se aproximando da mulher para devorar seu filho. O dragão quer devorar o filho da mulher por causa da promessa de Gênesis 3.15. A história do Antigo Testamento reflete essa realidade de que Satanás sempre desejou destruir a “semente” da mulher (veja-se, v.g., como faraó desejou eliminar os infantes israelitas). Porém, a derrota de Satanás está declarada pelo fato de ele não ter podido impedir o nascimento do filho da mulher. Portanto, o nascimento de Cristo foi o começo de uma derrota escatológica sofrida por Satanás. Deus cumpriu a promessa de trazer ao mundo a semente de Eva, que agora sabemos ser também o Filho de Deus. 

Gálatas 4.4 explica o significado da vinda de Jesus. Até que Cristo viesse, judeus (e gentios) viveram em um estado de “menoridade”, em condição não muito diversa da de escravos (v. 1-2). Os tutores e curadores se reúnem na figura da Lei de Deus, que serviu de “aio” aos judeus (v. 5, 23-24). Mas os gentios não tinham a Lei nesse sentido. Então quem eram os responsáveis por mantê-los na menoridade, nesse estado de escravidão? O versículo 3 responde: os “rudimentos do mundo” (ta stoucheia), conceito muito próximo de “principados e potestades” (vide também v. 8). “Rudimentos do mundo” provavelmente se referem a principados e potestades que atuavam por meio dos falsos deuses que eram adorados pelos gentios. Toda essa escravidão – de judeus, que não estavam em condição tão diferente dos gentios, e de gentios – teve seu início de fim na vinda de Jesus (Gl 4.4-5). 

Jesus veio “nascido de mulher”, a apontar para a promessa de Gênesis 3.15; sob a lei, porque a semente da mulher nasceu para travar uma batalha legal, forense, jurídica. Jesus, em sua batalha, retirou o aio dos judeus e libertou os gentios dos rudimentos do mundo, razão pela qual os judeus não deveriam voltar ao aio, nem os gentios aos rudimentos do mundo.

O Primeiro Confronto – A Hora da Tentação

Vamos analisar o primeiro confronto de Cristo com as forças das trevas, com Satanás, que aconteceu antes que Jesus começasse a pregar o evangelho.

O batismo de Jesus marca o início do seu ministério. Porém, mais do que marcar o momento em que Cristo começou a proclamar sua mensagem e realizar seus milagres, o batismo marcou o momento do início do conflito de Cristo com as forças das trevas. Após receber a unção do Espírito Santo e ouvir a aprovação divina através da voz celeste (Mt 3.16-17), “foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1). É significativo que o texto parece sugerir que Jesus está cumprindo uma espécie de “agenda”, o que de fato é; trata-se de uma agenda escatológica. Ele se deixou levar pelo Espírito ao deserto, com o objetivo de ser “tentado” pelo diabo.

Quando o Espírito levou Cristo ao deserto para ser tentado, ele estava oficialmente dando início à batalha escatológica, e colocando Cristo no centro dessa batalha. A partir desse momento, Jesus assumiu o comando dessa batalha. É interessante que o Diabo respeitou os quarenta dias e quarenta noites de jejum realizados por Cristo. Ele pacientemente esperou pelo momento “certo” para agir. Portanto, embora tivesse o “direito” de tentá-lo, isso não significava que tinha “todo o direito” e que não tivesse que seguir certas ordens, como no caso de Jó (veja-se também quando o Diabo pediu a Deus para submeter Pedro a uma tentação, segundo Lc 22.31, 32).

A batalha da carne

Jesus jejuou por quarenta dias e quarenta noites. Naturalmente estava com muita fome. A fome enfraquece tanto o corpo como a mente. Satanás não despreza o óbvio. Ele age com relativa simplicidade. Apenas aproveita a ocasião e se mantém dentro do seu “terreno seguro”, pois sabe que a imensa maioria das pessoas cai no primeiro nível da tentação, o nível da carne. As palavras de Satanás foram: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4.3). Satanás não parece reconhecer o direito exclusivo de Cristo de ser chamado “Filho de Deus”. Ele não diz “se és o Filho de Deus”, mas “se és Filho de Deus”. A resposta de Cristo aponta à tática adotada por ele para vencer Satanás: confiar na Palavra de Deus. Os dons de Deus nunca foram dados para o benefício próprio, mas para a edificação de outros, e isso está no centro dessa primeira tentação. 

De certo modo, Jesus concordou com o que Satanás sugeriu, pois, ao citar Deuteronômio 8.1-3, relembrou que de fato Deus deixou o povo sem comida no deserto por algum tempo: “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem” (Dt 8.2-3). Não é o pão, tê-lo ou não tê-lo, que fará diferença na relação com Deus. Jesus não precisou de sinais de Deus para somente então confiar em Deus. Jesus confiou em Deus com base na Palavra de Deus, pois ele disse: “Eis o meu Filho amado”. Nada que Jesus viesse a passar o faria desacreditar na Palavra de Deus. Portanto, confiar em Deus é o segredo da vida e da vitória contra a tentação satânica. O alimento não é a coisa mais importante da vida: obedecer a Deus o é. E depois Jesus diria que o alimento será acrescentado para aqueles que buscam em primeiro lugar o reino e a justiça (Mt 6.33).

A batalha da fé

Satanás subiu o nível do teste quando abandonou as questões relacionadas à satisfação dos desejos do corpo. Em resposta à citação de Jesus de Deuteronômio, o Diabo o levou até o pináculo do templo e mostrou que também sabe citar as Escrituras. Segundo o Diabo, Jesus deveria exigir um sinal de Deus. Ao longo do seu ministério, as pessoas sempre pedem a Jesus que dê um sinal da sua autoridade, pois não estão dispostas a crer sem alguma prova (Jo 4.41; 6.30). Mas o sensacionalismo, os sinais, os milagres, nunca deram muito resultado. Jesus acusou a multidão de segui-lo só para ver um sinal. Fez muitos sinais, mas todos o abandonaram na sexta-feira da paixão.

Primeiro, é preciso notar que Jesus diz “também está escrito”. Ou seja, ele reconheceu que o que o Diabo havia dito estava realmente escrito. Mas mostrou que havia uma norma maior do que aquela e que, de certo modo, regulamentava aquela. As Escrituras interpretam a si mesmas. Parafraseando, Jesus disse: “é verdade que está escrito que os anjos nos socorrem e nos protegem dos perigos, mas também está escrito que não devemos nos colocar em perigo intencionalmente, pois não podemos tentar a Deus”. Jesus citou Deuteronômio 6.16, que se refere ao teste de Deus em Massá (Ex 17.7), onde o povo se recusou a aceitar que Deus estava entre eles até que lhes desse um sinal. Essa é a tentação que deturpa nossa fé em Deus, que a transforma em presunção ou orgulho espiritual. A fé é humilde. Ela diz: eu não tenho nada além do que Deus quiser que eu tenha. A fé se humilha e descansa em Deus, sem acreditar que pode pressionar Deus contra a parede ou exigir que Deus satisfaça as vontades do homem pecador ou ratifique seus absurdos.

A batalha pelo mundo

O último nível da tentação relatada por Mateus é o que revela Satanás sem dissimulações. No deserto, Jesus estava em comunhão com Deus através do jejum e, após, no templo, no centro da religião judaica. Observe-se que Satanás transita nesse mundo religioso, como um “teólogo” que conhece a Palavra de Deus e a arte de distorcê-la. Mas no monte alto ele pode mostrar o que realmente valoriza: os reinos do mundo e a glória deles. Nesse momento, ele não usa a Palavra de Deus, mas luta com suas próprias armas. Ele arrisca o último trunfo. Opõe seu poder diretamente ao de Deus. A tentativa é uma só: a apostasia. Sua proposta a Cristo de lhe dar todos os reinos do mundo e a glória deles em troca de adoração aponta para seu esforço último de que os homens, conscientes e decididos, deem um passo para longe de Deus.

É uma troca definitiva de senhorio: de Deus para nós mesmos, e, finalmente, para o Diabo. O lugar dessa derradeira tentação é significativo: um monte muito alto, com a possibilidade de contemplar todos os reinos. Do deserto para o ponto mais santo e alto de Jerusalém e, finalmente, para o ponto mais alto do mundo, para contemplar a glória do mundo. É diante da glória do mundo que Jesus fez a opção pela obediência à Palavra de Deus. O desfecho está no verso 11: “Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram”. 

Observe que no v. 3 é dito que o tentador se pôs “ao lado dele”. No v. 5 lê-se que o Diabo o “levou consigo”. No verso 8 se diz ainda que o diabo o “levou com ele”. E, no verso 11, é dito que o diabo “o deixou”. O objetivo da obediência foi alcançado não por uma triunfante autoafirmação, nem por um exercício de poder ou autoridade miraculoso, mas paradoxalmente pelo caminho da humildade, serviço e sofrimento, e, acima de tudo, pelo apego às Escrituras e um repúdio veemente de Satanás e seus métodos. 

No entanto, a atitude do diabo, de se colocar como “dono” dos reinos deste mundo merece um pouco mais de atenção da nossa parte. Mateus relata que o diabo mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, então declarou: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4.9). Isso parace farsante em um primeiro momento, pois o diabo não pode ser considerado o “dono deste mundo”, uma vez que esse mundo pertence a Deus (Sl 24.1). Será que Satanás estava blefando com Cristo? De fato, isso não seria estranho para o “pai da mentira” (Jo 8.44). 

No entanto, é estranho que Cristo não tenha desmentido a suposta pretensão maligna. E, certamente, Cristo não se deixaria enganar pelas mentiras do diabo. A solução nos é dada no Evangelho de Lucas, onde mais detalhes são acrescentados: “Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua” (Lc 4.6-7). Ao que parece, Satanás não está dizendo que é o dono dos “reinos” do mundo, mas que tem “autoridade” sobre eles, e sobre a “glória” deles. O Diabo conquistou essa “autoridade” usurpadoramente, quando o pecado entrou no mundo, a mesma que Jesus conquistou legitimamente, na primeira vinda.

A palavra em destaque no texto de Lucas é “autoridade”. Literalmente, ele disse que recebeu “toda essa autoridade” (τὴν ἐξουσίαν ταύτην ἅπασαν). Enfaticamente, ele disse: “pois para mim foi dada” (há um enfático ἐμοὶ – “para mim” – no texto). O diabo estava falando a verdade quando disse que havia recebido toda aquela autoridade sobre os reinos do mundo. “Autoridade” é um termo jurídico. Desde o Éden, Satanás recebeu a “autoridade” para enganar as nações. Porém, logo chegaria o momento quando essa autoridade lhe seria cassada e, em lugar dele, Jesus diria, praticamente repetindo cada palavra do Diabo, que “recebeu toda a autoridade (ἐδόθη μοι πᾶσα ἐξουσία) nos céus e na terra” (Mt 28.18). Há um paralelo entre o que o Diabo e Jesus disseram. A diferença está nos modos como um e outro conquistaram a “autoridade”: o Diabo conquistou usurpando; Jesus, cumprindo toda a justiça.

A Batalha da Cruz

Quando Judas se aproximou com a escolta de soldados, o momento decisivo havia chegado. O que Cristo faria? Lutaria juntamente com seus discípulos, com armas e espadas, contra a escolta? Cristo se renderia ao medo da morte? Satanás conseguiria, desse modo, dissuadi-lo da missão de libertar Israel? Evidentemente que não. Uma luta com espadas e escudos seria totalmente inútil. Cristo nunca pegaria em armas, nem para se defender, nem para libertar Israel dos romanos. Sua única arma seria um pedaço de madeira. Ela seria uma arma contra ele mesmo, porém, ao final, seria também a arma letal contra o grande inimigo.

Lucas relata: “Falava ele ainda, quando chegou uma multidão; e um dos doze, o chamado Judas, que vinha à frente deles, aproximou-se de Jesus para o beijar. Jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?” (Lc 22.47-48). Naquele momento, segundo Mateus, Cristo disse: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?” (Mt 26.53-54). Ou seja, se aquela fosse uma luta que se resolvesse através de espadas, Cristo poderia chamar guerreiros mais eficazes. Mas aquela era uma luta por legitimidade. E, nesse sentido, ele tinha que lutar sozinho. Ela só seria vencida se todas as exigências legais fossem cumpridas, inclusive as profecias. 

Na sequência, Jesus falou aos captores: “Então, dirigindo-se Jesus aos principais sacerdotes, capitães do templo e anciãos que vieram prendê-lo, disse: Saístes com espadas e porretes como para deter um salteador? Diariamente, estando eu convosco no templo, não pusestes as mãos sobre mim. Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22.52-53). “Vocês não puseram as mãos em mim”, diz Jesus enfaticamente, “porém esta é a hora de vocês” (ἀλλ̓ αὕτη ἐστὶν ὑμῶν ἡ ὥρα), ou seja, “é o momento em que vocês têm o direito de fazer isso”, pois é a “autoridade das trevas” (ἡ ἐξουσία τοῦ σκότους). 

Nesse ponto, temos mais um reforço ao que já foi dito sobre Satanás ter sido o instrumento principal da morte de Cristo. Satanás não tentou desviar Jesus da cruz. Os sacerdotes queriam matar a Jesus, mas não sabiam como fazer. É Satanás, por meio de Judas, que oferece a solução. Satanás levou Jesus à cruz sem saber que esse seria o caminho da sua própria destruição. Satanás não sabia sobre esse resultado porque Deus o ocultou dele, entregando-o a uma severa cegueira. E, assim, Jesus foi aprisionado e conduzido às autoridades. Passaria por injúrias, falsos julgamentos, açoites, seria condenado a carregar uma cruz e morrer nela, fora de Jerusalém. Tudo isso configurava o momento da autoridade das trevas.

Perante o Sinédrio, Jesus foi acusado falsamente, e interrogado sobre se era o Cristo: “Se tu és o Cristo, dize-nos. Então, Jesus lhes respondeu: Se vo-lo disser, não o acreditareis; também, se vos perguntar, de nenhum modo me respondereis. Desde agora, estará sentado o Filho do Homem à direita do Todo-Poderoso Deus” (Lc 22.67-69). Jesus revelou que aquele era o caminho para que ele pudesse subir e assentar-se “à direita do Todo-Poderoso Deus”. Durante aquele dia, Jesus foi levado diante de Pilatos, Herodes, e novamente para Pilatos. Apesar dos interrogatórios, os evangelhos mostram que as autoridades romanas não encontraram motivo justo para condená-lo, e só fizeram isso para agradar as autoridades judaicas (Lc 23.14- 25).

João relata que Pilatos tentou dialogar várias vezes com Cristo, e, diante do silêncio de Jesus, tratou de adverti-lo: “Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?” (Jo 19.10). A resposta de Jesus foi categórica: “Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem” (Jo 19.11). 

Quando Cristo deixou o pretório romano, no pátio do Pavimento chamado de Gabatá (Jo 19.13), e tomou a direção do Gólgota carregando sua cruz (Jo 19.17), todos os olhos de uma numerosa multidão (Lc 23.27) estavam fixos nele. Mas não é exagero dizer que todos os olhos do céu e dos reinos espirituais também estavam fitos naquele homem que carregava a cruz pelas ruas, saindo de Jerusalém. Não há nenhuma descrição de possessão demoníaca que possa ter ocorrido naquele momento, e é de se supor que todos os demônios estavam quietos, na expectativa de que seu algoz seria morto, e assim, não mais os ameaçasse. 

Igualmente, Satanás não aparece mais, tendo cumprido sua missão de usar Judas para traí-lo e Pedro para negá-lo. Porém, no momento em que Cristo estava na cruz, ele precisava ouvir desafios da multidão, que bem poderiam vir de lábios demoníacos: “O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é, de fato, o Cristo de Deus, o escolhido. Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe vinagre, dizendo: Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” (Lc 23.35-37).

Mateus relata que eles usaram realmente essa expressão: “Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!” (Mt 27.39-40). A confiança que Cristo depositou em Deus, mas que não o levou a se jogar do pináculo do templo, agora é escarnecida: “De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus” (Mt 27.41-43).

É difícil dizer o quanto há de humano ou demoníaco nessas palavras cheias de escárnio. Cristo suportou pacientemente as ofensas e o sofrimento físico. Ele não reclamou em momento algum a respeito dessas coisas, ao contrário, chegou a pedir a Deus que perdoasse o pecado do povo (Lc 23.34). Porém, num dado momento do seu sofrimento, ele parece fazer uma espécie de reclamação contra Deus: “Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.45-46).

Sem dúvida, este foi o momento mais decisivo da grande batalha apocalíptica. A presença das trevas durante as três horas que antecederam a morte de Jesus são um símbolo dos tormentos que ele sofria. Aquele era o momento das trevas. Não se tratava apenas de sofrimento físico. O clamor de Jesus demonstra isso. A expressão é uma citação praticamente literal do Salmo 22.1, onde o salmista lamenta todo o seu sofrimento, o abandono e a ridicularização que sofreu por parte dos inimigos, mas demonstra confiança no governo soberano de Deus sobre as nações e nos seus propósitos para o futuro. Portanto, a expressão, em si mesma, não é uma reclamação contra Deus, mas um reconhecimento do verdadeiro e profundo sofrimento a que Cristo foi submetido, não apenas um sofrimento físico, mas acima de tudo um sofrimento espiritual.

A certa altura, o salmista disse: “Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve- o, pois nele tem prazer” (Sl 22.6-8). Esse, por certo, era o sentimento de Cristo ao final daquelas três horas de trevas. Na linguagem do Novo Testamento, ele havia recebido sobre si os nossos pecados (1Pe 2.24), foi contado com os malfeitores (Lc 22.37), foi levantado da terra como um maldito (Gl 3.13). Aquele foi o momento em que, ainda na cruz, de certo modo, Cristo experimentou os tormentos do inferno, ou seja, quando Cristo sofreu sob a ira de Deus, tendo que pagar tanto em seu corpo quanto em sua alma o preço da nossa reconciliação com Deus.

Observe o relato de João: “Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19.29-30). Em seguida, de acordo com Marcos: “o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Mc 15.37-38). A primeira expressão “está consumado” é uma única palavra no grego, a língua original do Novo Testamento: tetélestai (τετέλεσται). Algo que foi plenamente cumprido, um propósito que foi alcançado, “e em contexto religioso sustenta a concepção de cumprimento de uma obrigação religiosa”.

Esse deve ser visto como o grande momento da derrota de Satanás, o instante em que “sua cabeça foi esmagada”. Toda a atuação de Satanás desde o Gênesis foi no intuito de separar e garantir essa separação do homem em relação a Deus. Atuando como “sedutor (enganador) das nações” (Ap 12.9), e como “acusador de nossos irmãos” (Ap 12.10), ele esforçava-se por evitar a comunhão da criatura com o seu Criador. Ele interpunha objeções jurídicas, baseadas na Lei Divina, para que não houvesse verdadeira aliança entre Deus e os homens. Porém, quando ele conduziu Cristo à cruz, provavelmente no intuito de amedrontá-lo em um primeiro momento e, depois, de se livrar de Cristo, ele acabou cumprindo a antiga profecia de Gênesis 3.15. Ele picou o calcanhar do Descendente, ferindo-o na morte de cruz, porém o efeito disso foi ter sua própria cabeça esmagada pela morte que causou. A morte de Cristo matou a serpente.

Não apenas Satanás foi julgado e deposto na cruz, mas também todas as suas hostes. O apóstolo Paulo descreveu detalhadamente a respeito dessa grande vitória jurídica de Cristo sobre os demônios na carta aos Colossenses capítulo dois, verso 15. Após estabelecer que, através do batismo, os crentes têm sinalizado claramente seu perdão judicial diante de Deus, ele menciona o despojamento dos principados e potestades: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida [um “manuscrito”, como símbolo da anotação dos nossos pecados], que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando [saqueando, desarmando, destituindo a autoridade]  os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.13-15). O “escrito de dívida”, literalmente, o manuscrito, ou “escrito à mão” (χειρόγραφον). Esse documento legal é, sem dúvida, a causa da necessidade de Cristo entregar sua vida na cruz. Ao morrer crucificado, Cristo impôs três ações sobre o tal “documento”: 1) cancelou; 2) removeu-o inteiramente; 3) encravou-o na cruz. Satanás percebeu em um instante que estava enganado e, naquele instante em que Jesus morreu, recaiu sobre ele repentino terror. Mais que isso, três dias depois o Filho de Deus ressuscita, para piorar uma situação já catastrófica, do ponto de vista da força das trevas.

O Triunfo na Ressurreição e na Ascensão

A ressurreição deve ser vista como o grande momento escatológico do Novo Testamento. É o evento que inaugura o mundo vindouro. A eternidade como vida foi inaugurada na ressurreição. O primeiro homem está vivo para nunca mais morrer. 

É evidente que ela não pode ser dissociada do nascimento de Cristo e da sua morte na cruz, porém ela carrega o fator distintivo de ser o momento da virada do jogo, da consumação da vitória de Cristo. Em relação à morte de Cristo, ela mostra o ponto da reversão da própria derrota de Cristo. Ele se permitiu despojar na cruz, quando também despojou aos principados e potestades, porém, a diferença está justamente no terceiro dia após a cruz.

Todos sofreram uma grande derrota na cruz, inclusive Cristo, que submeteu-se ao despojamento do corpo, porém, ao terceiro dia, apenas Cristo retomou o corpo, somente ele reverteu os efeitos da derrota na batalha. Sobre os principados e potestades, e sobre o grande líder deles, Satanás, os efeitos foram irreversíveis. A cruz os “destruiu”, e eles jamais conseguiram se livrar dessa destruição.

Os anjos que estiveram presentes por ocasião do nascimento de Jesus, voltaram a aparecer no dia de seu “renascimento”, ou seja, em sua ressurreição. Todos os quatro evangelistas narram a presença de anjos naquele dia, o primeiro da semana, quando Jesus ressuscitou. Mateus diz que foi um anjo com aspecto de relâmpago quem retirou a pedra de diante do túmulo de Jesus (Mt 28.2-3). Eles que haviam apenas observado a longa luta solitária de Cristo com as trevas, desde seu nascimento até sua morte na cruz (até sem entender o que estava em jogo), agora podiam agir de uma maneira mais direta. A vitória já havia sido conquistada. 

Jesus permaneceu quarenta dias, de acordo com Lucas, aparecendo várias vezes aos discípulos e instruindo-os após a ressurreição (At 1.3). Então, antes da ascensão, ele lhes deu a seguinte ordenança: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Porém, segundo Mateus, antes de dizer isso, ele declarou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18). Portanto, a ressurreição de Cristo o habilitou a conquistar a autoridade (ἐξουσία) que Satanás lhe oferecera na tentação do deserto, em troca da submissão ao próprio Satanás. 

Porém, Cristo conquistou autoridade legítima pelo caminho longo e árduo, o qual, de fato, era o único possível: o caminho da sangrenta cruz. Tendo então destronado o príncipe deste mundo, e conquistado a autoridade para que o evangelho fosse pregado em todas as nações, Cristo ressuscitou para garantir a execução dessa grande obra. Na ressurreição, ele colheu os frutos do “penoso trabalho de sua alma” (Is 53.11).

No final do Evangelho de Marcos, logo após Cristo ter aparecido vivo para seus discípulos e os ter comissionado a ir por todo o mundo anunciando o evangelho, a narrativa descreve o momento quando Cristo subiu ao céu, o posto que ele assumiu, e os efeitos disso em relação à terra: “De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam” (Mc 16.19-20). Portanto, ao subir ao céu, ele se assentou à destra de Deus e, assim, continuou sua obra, preparando lugar para o seu povo e capacitando sua igreja a vencer pelo testemunho em todo o mundo. 

Pedro explicou para a multidão no Pentecostes que Jesus cumpriu a profecia do Salmo 110: “A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.32-36). Pedro declara: ele “foi feito” por Deus “Senhor e Cristo”. Portanto, a subida de Cristo ao céu após sua morte e ressurreição foi o momento em que, tecnicamente, Cristo foi entronizado para governar sobre céus e terra para cumprir os propósitos de salvar todo o seu povo e esmagar todos os seus inimigos. Jesus Cristo foi coroado na ascensão. 

A partir desse momento, todos os seres celestes, santos ou caídos, passaram a estar subordinados a ele. Ele se tornou o comandante dos céus e da terra: todos os anjos ficaram submissos a ele como auxiliares do seu ministério (Hb 1.13-14) e seus inimigos passaram a sentir o peso do seu poderoso braço (melhor, dos seus pés). Na Carta aos Efésios, Paulo também desenvolve esse conceito da ascensão e do assentar-se à destra de Deus como o acontecimento que concedeu domínio a Cristo sobre todas as coisas, inclusive sobre os inimigos. Paulo continuou: “iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro” (Ef 1.18-21). A ascensão, portanto, liga-se à ressurreição de Cristo como a maior demonstração do poder já realizada neste mundo e na história. 

Graças a esse poder Cristo agora reina nos céus e na terra e garante esse mesmo poder ao seu povo. Juridicamente falando, Cristo não tem mais rivais. Todos foram derrotados. Graças a isso, seu nome foi elevado acima de todos os nomes, obrigando a todos a se ajoelharem perante ele e a reconhecerem seu senhorio (Fp 2.9-11). Isso não é coisa meramente do futuro, mas está acontecendo desde a ascensão de Cristo, quando Deus “pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.22-23).

Graças à entronização de Cristo no céu, quando para lá ele subiu, agora ele é o cabeça da Igreja na terra, e ela compartilha do seu poder e da sua vitória, esmagando também seus inimigos, à medida que avança com o evangelho triunfante. 

O efeito da ascensão de Cristo sobre os poderes hostis é, ainda, detalhadamente descrito por Paulo em 1Coríntios 15.24-28: “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”. O reino de Cristo tem início, meio e fim: ele começou na ressurreição e está se desenvolvendo até a consumação. No momento há um estado de exceção, quando Cristo está reinando sozinho. 

Ao fim, o reino de Cristo encerrará.

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