Criação de Filhos

A Renovação da Aliança – Lição 4/13

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Introdução

Vale relembrar o que dissemos a partir de Deuteronômio 29.29: as coisas reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos. Com efeito, a Igreja tende a naufragar sempre que deseja perscrutar aquilo que Deus decidiu que não revelaria (vide, v.g., Mt 24.36; At 1.7), o que em geral ocorre em meio à negligência para com a sua clara revelação. 

Portanto, a decisão mais urgente a ser adotada pelos pais em sentido geral (pais, mães, representantes, guardiões, pastores, professores etc.) é a de ensinar aos filhos, pupilos e cristãos os Dez Mandamentos. Sobre eles, devem ser enfatizados os seguintes aspectos: sua natureza perene de lei moral de Deus, seu significado mais essencial, o aspecto da glória de Deus que cada um revela, seu conteúdo negativo (proibições ou imposição de abstenções) e positivo (exigências com vistas a um fazer) e seu resumo (Mt 22.36-40; Rm 13.8-10).

É evidente que no centro dessa compreensão dos Dez Mandamentos deve ser enfatizado que a sua concessão jamais pretendeu que fossem o meio pelo qual passamos a ser aceitos por Deus. Não, nunca fomos e jamais seremos recebidos na comunhão com Deus por meio da obediência aos seus mandamentos (Gl 2.16; 3.6-11). Os Dez Mandamentos são, na realidade, o meio pelo qual somos conduzidos à necessidade de Jesus Cristo (Rm 3.19-20; 7.7-12) e, estando nEle, o guia seguro para vivermos de acordo com a sua vontade.

Vale avivar também que, ao lado dos Dez Mandamentos, a oração do “Pai Nosso” e o “Credo dos Apóstolos” têm formado a tríade do discipulado cristão por excelência ao longo dos séculos (o leitor pode encontrar no blog exposições dos Dez Mandamentos e do Credo dos Apóstolos). 

Mas sigamos em nossos estudos sobre a criação de filhos segundo a Bíblia, concentrando-nos nesta lição sobre a renovação da aliança da lei e analisando o que Moisés ordena quanto ao modo como devemos ensinar a Revelação aos filhos.

A essência da Lei

No momento da renovação da aliança, Moisés relembrou que o Senhor fez aliança com a nação em Horebe (Dt 5.2) após a redenção do Egito, passando, na sequência, a listar os Dez Mandamentos (Dt 5.7-21) que o Senhor havia falado do fogo e da nuvem que cobriam o Sinai (Dt 5.22; Ex 19.16-18). Outros mandamentos seriam dados por meio de Moisés, mas nada era comparado àqueles mandamentos que Deus mesmo havia escrito em tábuas de pedra (Dt 4.13).

Passo seguinte, Moisés passou a se concentrar naquilo que é mais fundamental nos Dez Mandamentos (Dt 6). Nesse momento, ele destacou que a observância desses mandamentos seria o dever de toda a vida de todo o povo – “tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida” (v. 2). Dito isto, Moisés se voltou para a revelação mais central em todo o Antigo Testamento: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (v. 4). Ou seja, existe apenas um único Deus, cujo poder se estende a todas as nações, embora Ele tenha escolhido somente Israel para a comunhão com ele (Dt 32.8,9). Deuteronômio 6.4 se tornou uma confissão central no judaísmo, denominada “Shemá”, palavra hebraica inicial da sentença que é traduzida por “Ouve”.

Na sequência, falando na terceira pessoa do singular (“tu”), Moisés resume a Lei com aquele que Jesus chamou de primeiro e grande mandamento (Mt 22.36-38): “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (v. 5). Notemos que o próprio povo é uma unidade. É por isso que o pronome de tratamento não é “vós”, mas “tu”. Nesta unidade se incluíam as gerações que estavam perante Moisés e as que viriam, motivo pelo qual cada nova geração deveria ser instruída na verdade a respeito de Deus e de si mesma como parte do povo do pacto. Entendamos isso: o povo deveria amar a Deus como um só corpo. 

Amar a Deus desse modo – “de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” – significa dedicar todos os aspectos da vida a ele. Na palavra “coração” se inserem os nossos conceitos de cognição, volição e afeição. O acúmulo de palavras pretende reforçar a noção de “pessoa toda”

“Estas palavras” fundamentais, referentes à devoção integral a Deus – decorrentes da natureza una de Deus -, são uma ordem e deverão estar “no teu coração” (v. 6). Esta não seria, à toda evidência, uma religião apenas para os sábados (ou domingos); porque a revelação deveria estar no coração, seria para toda a vida, para cada instante da vida. 

Que as palavras deveriam estar no coração, isso também significa que elas têm que ser objeto de conhecimento, meditação e afeição. O mandamento de amar a Deus é para ser conhecido, internalizado e amado! Nós devemos amar a Deus e sua Bíblia. Dessa forma, a Escritura se tornaria a base das nossas decisões e a influência para todos os aspectos da vida.

A transmissão aos filhos

Mas não só. Estas palavras deveriam também ser transmitidas aos filhos. A palavra hebraica que a ARA traduz para “inculcar” tem sentido forte de “intimar”, “estimular” (v. 7a). Eram palavras para serem repetidas com frequência até que elas penetrassem seus corações e fizessem neles morada permanente. “Filho meu, guarda as minhas palavras e conserva dentro de ti os meus mandamentos. Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos dedos, escreve-os nas tábuas do teu coração” (Pv 7.1-3).

Nós temos que nos envolver, de fato, na luta pela conquista do coração dos nossos filhos! O coração deles está em disputa. Atualmente, as forças do relativismo, do pluralismo, do materialismo marxista, do ateísmo evolucionista, do mundanismo, do utilitarismo, da relativização de valores, da normalização da perversão, do esquerdismo workista etc. estão todas mancomunadas para encher o coração deles de descrença e cinismo. Eles não sabem disso. Eles estão sendo convencidos que a humanidade finalmente chegou à compreensão madura da vida e que a coisa mais execrável possível é a permanência dos velhos valores, sem saber que estão sendo apenas manipulados, não exatamente por forças político-ideológicas – que são apenas a ponta do iceberg –, mas por forças satânicas.

E nós, pais, não podemos abrir mão do coração, da mente, das faculdades dos nossos filhos! “Tu as inculcarás a teus filhos”, disse Moisés. Temos uma grande batalha pela frente. 

Travando a batalha

Como estamos perante uma lei natural e eterna, pais, mães e responsáveis podem instruir seus filhos ou pupilos em casa, todos os dias, nas tarefas diárias, nas andanças cotidianas: “delas falarás assentado em tua casa” é uma referência a horas de trabalho, descanso, lazer, refeições, de receber amigos; “andando pelo caminho” diz respeito a viagens e idas e vindas diárias; “ao deitar-te” remete à despedida da família antes de dormir e “ao levantar-se”, ao reinício das atividades ao acordar. O dia todo de todos os dias fornece ocasiões valiosas para falar a Palavra de Deus àqueles que estão à nossa volta, em um ambiente de doçura familiar. Falar naturalmente a Palavra de Deus, mas ainda assim propositalmente, é o que temos aqui. 

Os versículos 8 e 9 enfatizam que a Palavra de Deus deveria estar frequentemente na mente do israelita, como também orientando toda a sua casa, talvez com uma linguagem figurada. Se esse era o caso, as palavras “como sinal na tua mão” querem dizer que elas devem influenciar aquilo que fazemos, o nosso comportamento, as ações, reações e decisões. Também “serão por frontal entre os olhos” significa que deveriam ser observadas constantemente. Deveriam ainda ser escritas “nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”, porque orientadoras de toda a família e para a profissão pública da nossa fé.

Mais provavelmente, todavia, é que esta ordem teve um sentido literal. “É provável que naquele tempo existissem poucas cópias escritas da lei inteira, somente nas festas dos tabernáculos eram lidas para as pessoas. E então Deus lhes ordenou, pelo menos por ora, a escreverem em suas paredes algumas frases selecionadas da lei, que eram mais importantes e abrangentes, ou em rolos de pergaminhos para serem usados em seus pulsos. E alguns pensam que por essa razão o uso dos filactérios, tão comum entre os judeus, aumentou” (Mathew Henry). De fato, como Henry observa, “Cristo culpa os fariseus, não por usá-los, mas por quererem mostrar que eram mais largos do que os das outras pessoas, Mateus 23.5”. 

Henry continua: “Foi prudente e religiosamente determinado pelos primeiros reformadores da igreja inglesa que, naquela época quando as Bíblias eram raras, algumas partes selecionadas da Escritura deviam ser escritas nas paredes e nos pilares das igrejas, com as quais as pessoas se familiarizariam. Isto estaria em conformidade com essa instrução, que parece ter sido obrigatória para os judeus de acordo com o significado literal”. 

Por fim, arremata: “Ela [essa ordenança] é obrigatória para nós em sua intenção, que é que nos esforcemos através de todos os meios possíveis para tornar a Palavra de Deus conhecida a todos, para que possamos tê-la disponível em todas as ocasiões, para evitar que venhamos a pecar, conduzindo-nos em direção ao nosso dever, realçando o nosso entusiasmo em relação a ele. Ela deve ser como algo que esteja gravado nas palmas das nossas mãos, sempre diante dos nossos olhos… Também é ordenado que nunca nos envergonhemos de nossa própria religião, nem de estarmos sob o controle e o comando dela. Que ela esteja escrita em nossas portas, e que todo aquele que passar por elas possa ler que cremos que Jeová é o único Deus, e que o amamos de todo o nosso coração”. 

Conclusão

Por tudo o que temos observado, é possível chegar à conclusão que Deus tem tratado ao longo da história com um povo constituído de famílias. A aliança da lei não divergiu do padrão: um povo foi redimido da escravidão por meio do sangue do cordeiro e, uma vez liberto, recebeu pela primeira vez na história um catálogo sucinto, claro e objetivo da vontade do Deus Redentor, consistente sobretudo das dez palavras ou Dez Mandamentos. 

Essa lei tem como seu núcleo fundamental o mandamento para amar a Deus integralmente, com a inteireza da vida – “de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6.5) -, esse que é o primeiro e grande mandamento, conforme o Senhor Jesus Cristo (Mt 22.37-38). 

A lei de Deus foi revelada para nós e para os nossos filhos, razão pela qual devemos nos esforçar para inculcá-la em sua mente, inclusive por meio das atividades do cotidiano, e, sendo necessário, por meio de inscrições a serem facilmente vistas e lidas (Dt 6.7-9).

Mãos à obra!

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