A Natureza do Novo Nascimento

Lição 2/13

Temas Gerais
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Modo noturno

Introdução

Demos início aos nossos estudos sobre a maviosa doutrina do novo nascimento analisando João 3.1-8. Anotamos, a propósito do texto, que aquela conversa de Jesus com Nicodemos nos diz respeito e que o seu teor é de importância crucial. Destacamos, por fim, o que o novo nascimento não é, enfatizando que nascer de novo não é a obtenção de um sistema religioso, nem a mera percepção do caráter divino do ministério de um operador de milagres, tampouco mero aperfeiçoamento ou reforma da velha natureza.

Vamos, na presente lição, entender o que é o novo nascimento, a sua verdadeira natureza conforme ensinada pelas Escrituras. Com efeito, podemos conceituar o novo nascimento como uma operação divina soberana, sobrenatural, realizada por Deus o Pai por meio do Deus Espírito Santo e da Palavra de Deus, que concede vida espiritual a quem está espiritualmente morto. Analisemos o conceito por partes.

O novo nascimento é uma ação divina soberana 

Quando afirmamos que o novo nascimento é uma operação divina soberana, isso quer significar que a causa eficiente do novo nascimento é a vontade soberana de Deus. É o que se pode colher de João 1.13: “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Ainda que o significado da passagem seja no sentido de “herança genética” (“do sangue”), “desejo sexual” (“da vontade da carne”) e “vontade do varão em procriar” (“da vontade do homem”), como querem alguns, João afirma inconfundivelmente que o novo nascimento depende somente “(da vontade) de Deus”, excluindo a vontade humana natural do processo de geração espiritual.

João 3.8, por sua vez, parece encerrar a questão: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que nascido do Espírito”. Nesse texto, Jesus compara a ação regeneradora do Espírito com a ação do vento (“assim é todo o que é nascido do Espírito”). Desse modo, conclui-se que, como o vento, a ação do Espírito é invisível (“ouves a sua voz”), soberana (“o vento sopra onde quer”) e imprevisível (“mas não sabes donde vem, nem para onde vai”). 

O novo nascimento é uma ação divina sobrenatural

Além de soberana, o novo nascimento é uma ação necessariamente sobrenatural. Isto é, o novo nascimento não é algo que a natureza humana pode realizar em qualquer medida, ou para ela concorrer, nem minimamente. Nesse sentido são as palavras de Jesus em João 3.6: “o que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito”. 

O versículo transcrito fala sobre dois tipos de vida e duas fontes de vida. Uma fonte de vida só pode produzir um tipo de vida, nunca o outro. Não é o Espírito que propaga a espécie humana, nem, por outro lado, a natureza humana que produz a geração espiritual. Ou seja, aquilo que é natural não pode produzir nada que não seja apenas natural (“o que é nascido da carne, é carne”). Por outro lado, somente o Espírito de Deus pode produzir geração espiritual (“o que é nascido do Espírito, é espírito”). 

No novo nascimento, Deus concede, por meio do Espírito e da Palavra, vida espiritual em Jesus 

Enfatizemos este ponto: “O Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita” (Jo 6.63). O novo nascimento é uma obra sobrenatural, realizada soberanamente pelo Espírito de Deus, que traz à existência vida espiritual aonde não havia. É uma (re)criação do nada!

O Evangelho de João vai além e esclarece uma importante verdade, qual seja, que a vida que o Espírito concede no novo nascimento é o próprio Jesus. O evangelista registrou palavras de Jesus como essas: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.35,48); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25); “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). 

Essa preciosa verdade segundo a qual Jesus é a própria vida que recebemos no novo nascimento é descrita graficamente em João 6.53-58: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente”. 

Essa mesma verdade ainda pode ser dita de outro modo, que só é possível ter vida espiritual estando em união com Jesus, como João escreveu em sua primeira carta: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo 5.11,12).

Portanto, por meio do novo nascimento nós cremos em Jesus e, em união com Ele, que é a vida, passamos a ter vida (Jo 20.31). Essa realidade é lindamente ilustrada em João 15.1-6: Jesus é a videira, nós somos os ramos. A vida do novo nascimento é uma vida de fé em Jesus; por meio do novo nascimento, vivemos para crer e cremos para viver.

Conclusão

A doutrina bíblica do novo nascimento, à luz do que temos estudado, pode se constituir em obstáculo para muitos (inclusive cristãos!) por ser extremamente humilhante à natureza humana decaída. Tal fato decorre basicamente de três razões: primeiro, porque novo nascimento pressupõe morte espiritual, moral e legal (Lc 9.60; 15.24). Segundo, porque novo nascimento é uma obra absolutamente necessária e, nada obstante, que não podemos fazer em nós e por nós mesmos. O novo nascimento é retratado sempre como algo que é feito em nós e para nós, mas nunca por nós mesmos (1Pe 1.3). Terceiro, porque o novo nascimento pressupõe a absoluta liberdade de Deus em realizá-lo (Tg 1.18). 

Em breve síntese, somos absolutamente incapazes de realizar aquilo que nos é absolutamente necessário. É dizer: precisamos desesperadamente de algo que não podemos realizar e para o que não podemos contribuir. Mas tudo isso ainda será objeto de análise nas próximas lições. 

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