Introdução
É possível que não tenha havido tempos tão difíceis como os nossos para criar filhos. Mas estou certo que, embora os desafios externos sejam em extremo desafiadores, as dificuldades se concentram sobretudo na forma equivocada como os pais entendem que devem cumprir a missão.
O combate a uma educação tida como excessivamente rigorosa de outrora conduziu os pais ao polo oposto da absoluta complacência, aquela atitude de estar a todo tempo correspondendo aos desejos do filho, e da superproteção, tudo embalado por teorias psicológicas, pedagógicas e jurídicas que têm minado as noções de autoridade referidas nos estudos anteriores. Isso para além da enxurrada de interferências (professores, meio cultural, teorias sociais etc.) que blinda a percepção dos filhos para a influência dos pais e da igreja.
Essa conjuntura corrobora a ideia que a mais complexa tarefa que cristãos empreendem neste mundo é a criação de filhos. Os problemas são tantos e tão enraizados que não podem ser contornados senão com um profundo e permanente olhar para as Escrituras e pelas operações poderosas do Espírito de Deus.
Não custa lembrar que tudo que é dito no código doméstico paulino – os deveres da esposa e do marido (Ef 5.22-33), dos filhos (Ef 6.1-3) e dos pais (Ef 6.4) – é para ser vivido no contexto do enchimento do Espírito (Ef 5.18), isso porque não há esperança de que essa vida familiar cristã superior se torne realidade sem a atuação do Espírito Santo.
Dizendo de outro modo, é por faltar a necessária piedade que só pode ser produzida pelo Espírito de Deus que os pais menosprezam e falham quanto à tarefa da vida familiar em geral, nos termos cristãos, como na criação de filhos em particular, conforme a vontade de Deus.
Elucidados sucintamente os desafios que nos aguardam no empreendimento cristão de criar filhos, voltemo-nos a Efésios 6.4, à ordem apostólica orientadora da missão: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”.
O texto começa desconstruindo, mandando remover aquilo que não está de acordo com a vontade de Deus para a criação de filhos: aos pais é dito que não provoquem seus filhos à ira; depois, delineia positivamente os caminhos a serem seguidos: os pais devem criar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor.
A responsabilidade primordial é dos homens-pais
Antes, porém, de tratarmos os aspectos proibitivos e impositivos da ordem apostólica, cabe uma observação: a responsabilidade primordial quanto à criação de filhos é dos homens-pais. Se Paulo desejasse incluir na menção pais e mães, teria usado a palavra grega (goneis) que usou em Efésios 6.1 (“filhos, obedeceis a vossos pais [pais e mães]”), vocábulo que ocorre também, p. ex., em Lc 2.43 (“Terminados os dias da festa, ao regressarem, permaneceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais [pai e mãe] o soubessem”). Mas não é o que acontece na passagem em análise, onde Paulo usa o termo (pateres, masculino plural da palavra pater) que se refere apenas aos homens-pais, detalhe que a tradução ao português esconde.
Esse detalhe textual, evidentemente, não retira a responsabilidade das mães quanto à educação de filhos, mas estabelece que, como em todos os aspectos da vida familiar, a liderança na tarefa pertence aos homens-pais e que sobre eles pesa a responsabilidade pelos filhos, perante Deus, de um modo que não pesa sobre as mães. Em síntese, os homens-pais prestarão contas perante Deus pela criação dos filhos como as mães não o farão.
Esse ponto importante que estamos ressaltando contraria o imaginário e a prática comuns que historicamente entregaram a lida imediata com os filhos (incluindo a formação moral e religiosa) às mães e a responsabilidade material, de proverem o sustento, aos homens-pais. Esses se abstiveram com consciência tranquilo do contato com os dilemas diários da criação de filhos ao argumento de que essa tarefa pertence às mães. Deixaram de ser uma influência marcante porque estiveram sempre ausentes e se omitiram de participar de decisões cotidianas cruciais alegando ocupação “com coisas mais importantes”.
Pronto. A distância foi estabelecida por uma distribuição antibíblica de tarefas no seio da família. As mães assumiram a função de mediadora dessa relação distante – um modelo basicamente católico-romano de vida familiar, diga-se de passagem -, não raro tomando decisões sozinhas e escondendo dos homens-pais certos comportamentos e tendências dos filhos para não melindrar a sensibilidade daquele ser que só poderia ser encontrado no no alto do seu trono e que quando chega em casa exausto exige silêncio absoluto e não tem disposição para lidar com “questões domésticas”.
Com essa atitude, os homens-pais apenas renunciaram a sua indispensável liderança e não atenderam ao comando de ser o cabeça da família, nos termos da Bíblia. Resultados: não participaram da vida dos filhos; não riram e não choraram com os filhos; não perceberam quando estavam desanimados e por isso não os encorajaram; não os viram sendo aliciados e por isso não os protegeram; não notaram que estavam sendo contaminados pelas influências do mundo e por isso não os corrigiram; não tiveram tempo para ver os filhos iniciando um caminho de rebeldia e por isso não os disciplinaram.
Foi cômodo, convenhamos, mas foi desastroso. Os filhos homens cresceram sem um modelo forte de masculinidade que pudessem imitar e, as filhas, sem um referencial de marido a partir do qual pudessem encontrar a própria feminilidade. A conclusão a que devemos chegar é que todos somos, homens-pais, culpados disso em alguma medida.
O que fazer? Uma nova história pode recomeçar com uma confissão regada a lágrimas copiosas, a Deus, a esposa e aos filhos. Devemos todos voltar para casa, para aquela vida comum do lar (1Pe 3.7), não como o macho opressor que usa a Bíblia para impor um tipo de submissão feminina jamais pensada no texto bíblico – uma espécie de caricatura grotesca e disforme que o mundo adora ridicularizar. Devemos voltar para casa como o líder cristão, manso e humilde de coração e servo de todos, segundo o modelo do nosso bondoso Senhor, prontos para assumir as responsabilidades de conduzir a família para a glória de Deus.
As mães, por sua vez, não devem assumir o papel de líder da criação dos filhos e se permitirem responsabilizar sozinhas pelo que acontecer a eles. Devem, ao contrário, decidir que nunca mais ocultarão do pai fatos relacionados aos filhos, nem que tomarão sobre si o fardo de ter que minimizar situações porque o pai “não consegue lidar com as tensões no lar”.
Por fim, chamo a atenção das meninas. Muita atenção para isso: escolham homens de verdade para casar, sob pena de o fardo das responsabilidades que não foram destinados pelo Criador a vocês vir a pesar sobre seus ombros. Casamentos com moleques mimados são uma grande dor. Eles preferem os videogames a lida com os filhos, o jogo de futebol e o ciclismo aos cultos domésticos, preferem gastar dinheiro com roupas de marca e brinquedinhos e não com planos de saúde, são preguiçosos para o trabalho e lentos para as questões espirituais. Não serão bons pais, nem bons esposos. Fujam deles! Casem, repito, com homens de verdade, que compreendem na exata medida as responsabilidades que pesam sobre aqueles para quem Paulo escreveu Efésios 6.4.
Pais, não provoquem seus filhos à ira
Já observamos que as instruções apostólicas quanto à criação de filhos miram primordialmente os homens-pais, em virtude de sua liderança no lar, embora não excluam as mães. O que foi dito a eles? Como os homens-pais devem criar os filhos? Paulo dá início às suas orientações ressaltando o que os pais não podem fazer: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira” (Ef 6.4a).
A frase é construída com o sentido de se impedir uma ação habitual e injusta de deixar os filhos irados. O que Paulo proíbe é aquele tipo de ação que, de tão absurda e persistente, imerge os filhos em um estado permanente de rebeldia. Paulo não quer dizer, como o restante da passagem demonstrará, que os pais não devem impor limites, nem que jamais devem contrariar os filhos, nem que não podem negar nenhuma das suas demandas, tampouco que devem sempre atender a tempo e a hora todos os seus desejos para que eles não se irritem.
Na passagem paralela, em Colossenses 3.21, o apóstolo disse: “Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados”. Os pais não devem provocar ressentimentos nos filhos, segundo a passagem, para que eles não percam o ânimo e se tornem como aqueles filhos excessivamente tímidos e inseguros.
Notem que essas passagens reunidas dizem que uma ação habitual e injusta dos pais em provocar sentimentos negativos nos filhos geram dois tipos de pessoas: aquelas irremediavelmente rebeldes, contrárias aos pais em tudo o que fazem, dizem e pensam pela só propósito de contrariá-los, e aquelas frias e desanimadas, que tudo fazem mecanicamente, sem prazer e sem o emprego da devida energia naquilo que realizam.
Em síntese, pais que estão sempre a provocar sentimentos negativos de revolta nos filhos devem esperar filhos rebeldes ou inseguros e sem ânimo para viver. Ambas as atitudes são pecaminosas porque os filhos devem obedecer aos pais no Senhor, o que implica dizer que a atitude equivocada dos pais pode levar seus filhos a pecarem contra Deus.
Bem, mas o que significa exatamente provocar os filhos à ira ou irritar os filhos? O que Paulo tem em mente, antes de tudo, é o dever, primordialmente dos homens-pais quanto à autodisciplina. Isso quer significar que os pais não podem exercer a autoridade parental com excesso, nem com deficiência, nem por razões evidentemente distorcidas.
Em outras palavras, a ordem apostólica tem em vista o emprego correto da autoridade do pai na lida com a família. O desvio desse padrão pode ocorrer por excesso, por deficiência ou por motivos equivocados. É sobre o que trataremos.
Uso equivocado da autoridade por meio do excesso
Utiliza-se de uma linguagem excessiva quando os pais só falam para tecer críticas, às vezes até publicamente, ou quando usam palavras de baixo calão e gritam descontroladamente. O uso da força pode também ser excessivo, quando os pais levam a correção física ao ponto da agressão e da humilhação dos filhos. Em Provérbios há uma advertência quanto ao uso excessivo da disciplina: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo”.
Além desses casos em que os próprios filhos são vitimizados, é também comum que se irritem ou se desanimem pela forma como vêm a mãe sendo tratada pelo pai, nos casos comuns, infelizmente, de violência doméstica e familiar contra a mulher. Os excessos mencionados também vitimizam as mães, motivo de revolta e desânimo de muitos desses filhos.
Uso equivocado da autoridade por seu exercício deficiente
O uso deficiente da autoridade é igualmente motivo para rebeldia e desânimo. Os filhos desejam uma autoridade firme que lhes seja referência para a vida, para as decisões que precisarão tomar, que lhes dê marcos seguros para como devem proceder.
Quando os homens-pais se omitem dessa tarefa, estando ausentes ou sendo passivos ou se apresentando apenas como “o amigão”, isso também gera revolta ou desânimo, especialmente se a passividade existe somente para “privilegiar” um filho em detrimento de outro. A perplexidade surge na forma de uma pergunta: “por que meu pai vê todas as barbaridades que meu irmão comete e nada faz a respeito?” Além disso, homens sem iniciativa, sem voz e manipuláveis, pelos filhos ou pela esposa, aparecem no lar como líderes fracos, indignos de serem seguidos, o que gera revolta e desânimo.
Quando a autoridade parental é deficiente, os filhos crescem achando que o mundo gira em seu redor e em função deles, até que descobrem que as coisas não funcionam assim e se revoltam ou desanimam. Esse foi o caso de Adonias, o filho que Davi nunca contrariou (1Rs 1.6). Adonias entendeu que ele é que seria rei no lugar do seu pai e por isso desencadeou uma rebelião que culminou em na própria morte (1Rs 1,2).
Uso equivocado da autoridade por razões distorcidas
Os filhos percebem quando a disciplina ocorre pelas razões certas. O exercício da disciplina pode ocorrer sob descontrole emocional, como forma de mero desabafo, para canalizar frustrações ou perseguir interesses pessoais, por motivo de vingança contra o filho ou contra terceiro, para dar satisfação a observadores etc. Em todos esses casos não se trata exatamente de disciplina, mas do uso ou abuso dela para perseguir objetivos que não dizem respeito à orientação bíblica dos filhos. As filhas de Labão, por exemplo, ficaram revoltadas porque perceberam que o pai as tinha usado para interesses pessoais (Gn 31.14,15). O excesso de linguagem e atitude de Saul contra o filho Jônatas certamente era motivado por interesses pessoais, relacionados à perpetuação no reino (1Sm 20.30-34).
Se o que está em jogo é o exercício da autoridade na medida certa, tanto o excesso como a deficiência devem ser evitados. Mais que isso, além da forma, os motivos dos pais ao disciplinarem os filhos devem corresponder ao propósito de formá-los para a sua maior bem-aventurança possível e para a glória de Deus.
O uso equivocado da disciplina, por excesso, deficiência ou por razões distorcidas, tem variadas causas. Pais narcisistas, excessivamente controladores, superprotetores, egoístas etc., geralmente incorrem em uso equivocado da disciplina e são responsáveis por ambientes familiares propícios à formação de filhos rebeldes ou desanimados. Frise-se: o motivo da disciplina equivocada jamais pode ser creditado à fé cristã.
Por fim, é de bom alvitre realçar que atitudes equivocadas dos pais quanto à disciplina não justificam as reações equivocadas dos filhos àquelas. O que é dito no versículo 4 de Efésios 6 não tem o condão de justificar a inobservância do que foi dito nos versículos 1 a 3 da passagem.
Criai-os na disciplina e admoestação do Senhor
No contexto das suas orientações aos crentes quanto à criação de filhos, Paulo chamou a atenção dos homens-pais enfatizando o que não devem fazer – “não provoqueis vossos filhos à ira” -, alertando em favor do uso da autoridade na medida certa, sem excessos e deficiências, e pelas razões certas. O uso abusivo ou deficitário da autoridade parental pode produzir filhos rebeldes ou desanimados. Foi sobre o que tratamos até aqui.
Positivamente, Paulo os conclama a criar os filhos com um verbo no tempo presente e na voz imperativa (gr. ektréfete), pelo que concluímos que a responsabilidade de criar os filhos é um dever inalienável que pertence aos pais, não ao Estado, e que a tarefa é ininterrupta.
Vozes respeitáveis têm advertido para o fato de que o Estado brasileiro tem se imiscuído na vida privada de maneira sem precedentes na história recente do país, sobretudo para cooptar nossos filhos ainda em tenra idade e conquistá-los para ideais progressistas e novas teorias sociais avessas à fé. Para Paulo, a responsabilidade para criar os filhos não é do Estado, é dos pais, e enfatizar isso nunca foi tão urgente!
A palavra usada por Paulo para “criar” tem o sentido básico de “alimentar” (cf. Ef 5.29), mas quando aplicada à formação de crianças, ganha o significado de criar, educar, formar por meio de cuidados e esforços. É evidente que a provisão do sustento material e da formação intelectual está inclusa na palavra, mas para a Escritura criar filhos é muito mais do que alimentação e oportunidades educacionais e profissionais. Ela envolve toda uma gama abrangente de provisões que incluem, com especialidade, o relacionamento com Deus em Jesus Cristo.
A nossa conclusão é que aos pais cristãos é dado uma ordem no sentido de que devem fazer aos filhos uma provisão toda abrangente, que vá além de meros sustento material e oportunidades educacionais e profissionais para incluir sobretudo a vida com Deus por meio de Jesus.
Sobre como fazer isso, Paulo também informa: “criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Senão, vejamos.
A disciplina
A palavra traduzida para “disciplina” (gr. paideia) era usada para o treinamento de crianças, para a educação infantil. A palavra indica a disciplina usada para corrigir a criança faltosa com vistas ao seu treinamento para discernirem e perseguirem sempre o caminho da fé cristã. A disciplina indicada pelo vocábulo enfatiza particularmente a correção física.
Para muitas pessoas, o uso da correção física é parte de um passado bárbaro e obscurantista incompatível com o amor, para quem o ensino de Paulo é de difícil aceitação. A Bíblia, no entanto, prescreve-a para o fim exclusivo do treinamento do filho (não pelas razões equivocadas) e na medida certa, alertando inclusive para o seu necessário uso em ocasião oportuna. O uso da “vara” afastará do coração da criança sua estultícia natural (Pv 22.15) e formará filhos que no futuro darão descanso e alegria aos pais (Pv 29.17).
Nem seria necessário repetir que o uso abusivo da autoridade e da disciplina é condenável nas Escrituras do Antigo e Novo Testamento, conforme antes demonstrei, mas uma autoridade deficitária trará também muitos e indesejáveis males. Para Provérbios 13.24, reter a vara (deixar de aplicar correção física na criança), quando seu uso é necessário, é demonstração de ódio pelo filho, não de amor, porque correção física aplicada quando oportuna e na medida certa é instrumento recomendável para que ele aprenda a discernir entre o certo e o errado, a temer a Deus e a confiar nele.
Provérbios 29.15, por sua vez, afirma que a “vara” produz sabedoria e que não usá-la é entregar a criança a si mesma, uma atitude não de amor, mas de indiferença, que no futuro se mostrará desastrosa. Um pouco mais de correção poderia ter evitado que inumeráveis filhos entrassem na criminalidade e viessem a ser punidos pelos agentes de segurança pública, recebendo, aí sim, uma disciplina sem qualquer amor do braço repressivo do Estado, não raro confinados nas masmorras penais, “lugar onde o filho chora e a mãe não ouve”. O Estado que não quer que corrijamos com disciplina física nossos filhos (vide Lei Menino Bernardo) é o mesmo que os trancafia em jaulas inabitáveis quando cometem crimes ou apenas são acusados de cometê-los.
A admoestação
A outra palavra usada por Paulo, traduzida para “admoestação” (gr. nouthesía) significa treinamento por meio de palavras – ensino, orientação, encorajamento, reprovação, correção, repreensão. A regra é a educação por meio de palavras e que elas, se suficientes, bastem. Se o uso de palavras é suficiente, isso fará bem a todos, porque pais cristãos nunca aplicam correção física porque sentem prazer nisso, mas porque amam os filhos e desejam o seu bem. Se as palavras são insuficientes, faz-se necessário lançar mão de correções físicas oportunas e na medida certa.
Disciplina e admoestação “do Senhor”
Paulo acrescenta que a disciplina e a admoestação utilizadas na criação de filhos por pais cristãos são as “do Senhor”. Isso significa que a tarefa dos pais em educar os filhos é um serviço que aqueles prestam a Deus, dos mais relevantes, se não o mais relevante nesta vida, diga-se de passagem. Ou que devem fazê-lo nos limites e nos termos impostos pelo Senhor, significando que os pais devem conhecer a Deus e o modo como Deus quer que eles criem os filhos, para que o obedeçam no cumprimento da missão. Ou ainda que devemos criar nossos filhos de um modo correspondente à forma como o Senhor disciplina e admoesta seus próprios filhos.
Conclusão
Em síntese, a passagem nos remete às seguintes ilações:
Em primeiro lugar, o problema está devidamente localizado: o problema da educação de filhos reside no abuso da autoridade (excesso de rigor) ou no seu uso deficitário (ausência ou deficiência de disciplina). O excesso de rigor, como a ausência de disciplina, é corrigido pela orientação apostólica: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”.
Em segundo lugar, a disciplina na medida certa depende da necessidade, da personalidade da criança e da circunstância na qual será aplicada. Fato é que estão à disposição dos pais cristãos um cabedal de instrumentos que vão desde a disciplina por meio de palavras até, conforme a necessidade, o uso moderado da correção física.
Em terceiro lugar, a marca distintiva da educação cristã está sublinhada pelo termo “do Senhor”. Pais não cristãos corrigem os filhos; pais cristãos corrigem os filhos “no Senhor”, conforme a Palavra do Senhor, como um serviço ao Senhor e segundo o que o Senhor mesmo faria. O objetivo primordial da criação cristã de filhos é o treinamento das crianças para que aprendam a temer e amar a Deus em Jesus Cristo.
Em quarto lugar, embora a Escritura fale sobre os benefícios do uso correto da disciplina e os malefícios do seu não uso, ela mesma indica que, excepcionalmente, filhos descrentes e rebeldes poderão crescer no seio de pais fieis e dedicados quanto à sua educação e, por outro lado, que filhos santos poderão surgir a partir de pais ímpios. Isso não deve desencorajar os pais a empreenderem um esforço constante e orientado pela Palavra de Deus em fazer o melhor que podem para que seus filhos cresçam conhecendo e amando o Senhor. Mas devem saber que isso é tudo o que podem fazer. Quanto ao mais, devem confiar no Senhor, cientes que aprouve a Deus separar para si um povo santo a partir de famílias discipuladoras, fato verificável em toda a história da salvação.