Criação de Filhos 

Discipulado para a Vida Justa – Lição 5/13

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Introdução

Ainda no contexto da renovação da aliança da lei, Moisés reforçou a ordem de ensinar aos filhos em Deuteronômio 6.20-25, a partir de uma fórmula semelhante àquela que se daria no contexto da celebração da festa da Páscoa (cf. Ex 12.26-28), através de perguntas e respostas. É sobre o que trataremos nesta lição.

Pais preparados

Moisés supõe que as crianças perguntariam a razão que levava seus pais a agirem de determinados modos, conforme aqueles preceitos, observando festejos religiosos e dias de culto, ritos cerimoniais, sacrifícios, práticas diárias em observância aos Dez Mandamentos etc. As crianças haveriam de perguntar: “Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou?” (v. 20). 

Isso nos conduz às seguintes considerações: 

  • primeira, a nossa fé é racional e não há mandamento divino sem importância ou carente de significado; 
  • segunda, devemos ver com bons olhos a curiosidade das crianças quando indagam sobre o sentido das nossas práticas e disciplinas religiosas, porque isso pode significar interesse pelas coisas divinas; 
  • terceira, responder as perguntas das crianças que “fazemos isso ou aquilo porque sempre fizemos assim” não atende sua necessidade de compreender o sentido das ordenanças e dos mandamentos de Deus; 
  • quarta, os pais devem estar preparados para responder com convicção e clareza as perguntas das crianças. Se Pedro conclama a estarmos “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15), essa atitude deve ser tida como especialmente necessária ao discipulado dos filhos. 

Porque os pais precisam estar preparados, Moisés põe em seus lábios a resposta à pergunta dos filhos (vs. 21-25), o que nos leva a perceber que deve haver uma educação prévia, proposital e proposicional dos próprios pais, no sentido de prepará-los para atender às demandas dos filhos pelo conhecimento da piedade. Nada há aqui que remeta à noção de improviso quando o tema é educação de filhos. É preciso estarmos previamente preparados e com respostas prontas e claras.

Em suma, os filhos cristãos devem desejar saber e os pais, prontos e preparados a ensinar! 

Assim, conforme Moisés, quando os filhos perguntassem o significado das leis de Deus, o que os pais deveriam responder?

Um povo separado dos demais povos

Os pais deveriam responder que os mandamentos de Deus visam atender ao seu propósito de nos tornar um povo especial, exclusivamente seu, de sua propriedade particular, diferente de todos os demais povos (vs. 21-23)

Para tanto, os pais deveriam esclarecer aos filhos o estado deplorável em que o povo se encontrava quando escravizado no Egito – “Éramos servos de Faraó, no Egito” (v. 21a) -, com todas implicações que são próprias da escravidão. É importante lembrar aos filhos de onde viemos e onde poderíamos estar não fosse a boa mão redentora de Deus! 

Os pais deveriam igualmente enfatizar que Deus os havia libertado dessa condição por meio do seu poder onipotente e soberano (vs. 21b, 22). A nossa condição era tal e tal era o poder que nos aprisionava que somente a “poderosa mão” de Deus seria capaz de tamanha salvação. Mas não só. Deus não nos libertou para nos deixar a ermo. Nós fomos salvos da escravidão e conduzidos à nossa própria terra: “e dali nos tirou, para nos levar e nos dar a terra” (v. 23a), tudo de acordo com as antigas promessas (v. 23b).

Em algum dia no futuro também nós, cristãos, diremos assim aos nossos filhos: “Já fomos escravos em terra alheia e dominados sob o terrível poder das trevas que operavam pelo pecado. Depois de libertos, vagamos por terra estranha como peregrinos e forasteiros, mas, hoje, habitamos em nossa própria terra!”

Ditas essas coisas, os israelitas haveriam de compreender a transmissão de certos preceitos como parte dessa grande salvação, por meio da qual Deus estava fazendo um povo especial para si, para a sua propriedade peculiar. Paulo assim o disse: “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.13,14).

Enfim, repito, Deus nos quer diferentes de todos os demais povos! Quer que façamos o que não fazem, que deixemos de fazer o que fazem, que valorizemos o que não dão nenhuma importância e que desprezemos aquilo pelo que matam e morrem. “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus… vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1Pe 2.9a,10).

O discipulado é para a comunhão com Deus

Os pais deveriam responder que Deus nos deu “testemunhos, estatutos e juízos” para o “bem”, para a “vida” e para a “justiça” do seu povo (vs. 24, 25).

Imaginemos a seguinte conversa de pais com seus filhos: “Meus filhos, Deus só nos ordena aquilo que é para o nosso bem e só nos proíbe aquilo que nos fará mal”. Com efeito, seus estatutos são “para o nosso perpétuo bem” (v. 24a). De tudo quanto nos proíbe e nos exige, nada é para o nosso mal, nada é para nos sonegar aquilo que poderia gerar verdadeira felicidade.

Não, não haverá arrependimentos pelo fato de termos temido a Deus e observado seus mandamentos, mas, ao revés, como diz o salmista, “Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço” (Sl 119.165); e, noutro lugar, que, em guardar os mandamentos de Deus, “há grande recompensa” (Sl 19.11). Por outro lado, para os cristãos, a alma colhe a sua porção de dores e angústias quando o caminho trilhado é o da desobediência e de querermos lançar fora o jugo divino. 

E mais. Deus nos deu mandamentos para a “vida” e para a “justiça”, conceitos mutuamente relacionados e que convergem para a experiência da comunhão com Deus. Não há vida sem justiça, nem justiça sem vida. A vida justa é aquela que goza a comunhão com o Redentor. 

Ocorre, no entanto, que se pudéssemos cumprir toda a lei de Deus, impecavelmente, isso nos seria por justiça pela qual viveríamos e não careceríamos de uma justiça alheia, do Mediador. Mas não podemos. Não podemos cumprir perfeitamente nenhum dos mandamentos de Deus, nem por um único instante. Tudo o que sabemos por natureza é praticar a injustiça para a morte. Então carecemos daquela justiça de Deus, que se revela no evangelho, de fé em fé (Rm 1.17), quando, de posse dela, passamos a viver de maneira justa, para o que Deus nos deu seus mandamentos. 

Em síntese, o bondoso Deus nos deu seus mandamentos para vivermos a vida justa que recebemos por seu favor, de modo que glorifiquemos o seu grande nome e vivamos para o seu inteiro agrado. “Viva a minha alma para louvar-te; ajudem-me os teus juízos” (Sl 119.175). 

Conclusão

A conclusão a que podemos chegar é que o discipulado dos filhos é uma tarefa que exige preparo prévio dos pais. Perguntas precisam ser respondidas de forma clara, objetiva e à luz da Palavra de Deus. Nós, pais, devemos conhecer o significado dos sacramentos, o teor e a razão dos mandamentos de Deus, o modo e os porquês das disciplinas cristãs, para que, prontamente, expliquemos aos filhos os artigos cardeais da piedade.

Nesse contexto, é importante lembrar aos filhos de onde viemos e onde poderíamos ter permanecido (o estado de morte, de escravidão e de condenação), não fosse a boa mão redentora de Deus! É preciso enfatizar também que somente o poder onipotente de Deus, que operou em Jesus Cristo, o Deus-Homem, poderia garantir tão grande libertação e a segurança necessária para, após a longa jornada da vida cristã, conduzir-nos ao lar eterno.

Evidentemente, dentre os artigos mais essenciais da nossa confissão está aquela grande doutrina da justificação graciosa pela fé somente, motor da Reforma do século XVI. Uma explicação clara e completa dos mandamentos de Deus resultará na absoluta necessidade da imputação da justiça perfeita do Deus-Homem. Mas, uma vez justificados, os mandamentos assumem não mais a função de nos humilhar, quando nos dizem sobre a impossibilidade de conquistarmos por nós mesmos a vida e a justiça, mas de nos mostrar o caminho para a vida justa que goza a comunhão com Deus.

Assim, porque o nosso Deus é um Salvador poderoso e cheio de misericórdia pelo povo que salvou, Ele nos deu os seus mandamentos para sermos um povo separado dos demais povos e para termos a bênção da comunhão com Ele.

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